de um dia perto da estreia
o olhar do Dani
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09/09/2017
31/07/2017
06/07/2017
04/07/2017
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A Cacá tem acompanhado alguns ensaios, como provocadora da pesquisa, e ela tem um jeito muito especial de ser, uns amigos nossos até inventaram uma medida de tempo pra ela: 1 cacá, 2 cacás, 3 cacás... penso que é porque no olhar dela cabem muitas coisas, e com os olhos cheios o tempo é outro mesmo, inevitavelmente. E eu sou imensamente grata por ter esse olhar sobre o meu trabalho, pois é sincero, preciso e propulsor. Vou deixar aqui dois trechos de um texto do Paul Auster que ela trouxe no começo dos nossos encontros, coisa rica, tudo a ver:
Permaneço no quarto em que estou escrevendo estas palavras. Ponho um pé na frente do outro. Ponho uma palavra na frente da outra, e para cada passo que dou acrescento outra palavra, como se para cada palavra a ser dita aqui houvesse outro espaço por atravessar, uma distância que meu corpo devesse preencher no que se move por este espaço. É uma jornada através do espaço, mesmo que eu não vá a lugar algum, mesmo que termine no mesmo lugar onde parti. É uma jornada através do espaço, como que entrando e saindo de várias cidades, como que cruzando desertos, como que até a borda de algum oceano imaginário, onde cada idéia se afogue nas implacáveis ondas do real.
No começo, queria falar de meus braços e pernas, de saltitar, de corpos trombando e girando, gigantes jornadas através do espaço, de cidades, de desertos, de cadeias de montanhas que se estendem até além de onde a vista alcança. Mas pouco a pouco, na medida em que essas palavras começaram a se impor a mim, as coisas que quis fazer acabaram parecendo desimportantes. Relutante, abandonei todas as minhas histórias espirituosas, todas as minhas aventuras de lugares distantes, e comecei, lenta e dolorosamente, a esvaziar a mente. Agora só resta o vazio: um espaço, por mais que pequeno, em que tudo que está acontecendo pode ter o direito de acontecer.
( ESPAÇOS EM BRANCO, Paul Auster )
09/06/2017
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Talvez exista uma frase boba que diga que aprendemos
muito mais de nós olhando para os outros. Não importa... cá estou, pensando
assim, bem boba. Pensando que quando me volto para os outros afim de entender
como pensam e agem me conecto com tudo aquilo que é maior do que
a gente e que nos une... com a vida, por exemplo. E eu gosto disso, principalmente, porque ao
observar me sinto aliviada, mesmo que ilusoriamente, do sentir. E penso que
observar alguém é como descascar cebolas: tomar distancia para não ficar com a
vista turva e lidar com camadas e camadas de uma mesma matéria. E foi
importante para mim observar a Bia e o Renan dentro das oficinas, assim como as
outras tantas pessoas que estiveram com a gente, assim como tem sido observar o meu filho... Vi o quanto de entrega, labuta
e persistência tem no que fazem, pra lá dos domínios técnicos que lhes são
suados, nem preciso dizer. E me reconheci. Com o Renan se iluminou uma coisa
aqui, até então tímida, de que o desenho, expandido, pode sim ser o pensamento
da minha dança, e vice-versa. E que, de algum modo, o que eu sempre
identifiquei como uma capacidade de estar atenta ao espaço de fora, e ver-se de
fora, durante as danças, apesar dos constantes mergulhos em si direcionados
pelas abordagens somáticas com as quais sempre me envolvi, denunciam, na
verdade, um pensamento visual dentro dos meus processos em dança. Assunto ainda
cru nas palavras, mas que vem fluindo bem no trabalho. Já com a Bia, a idéia de
corpo como organismo fluido que requer cuidados tanto para viver quanto para criar, brilhou. E brilhou muito. Feito cura. E aproveito
pra dizer que hoje cuido melhor de mim para dançar, como deveria ter sido sempre... o
que admito com leveza, porque também tem feito parte desse processo admitir que
a vida flui do jeito dela, com ou sem o meu consentimento, fazer o que? Venho mudando o que posso mudar, o que não posso, aceito. Enfim, estou
aqui só pra dizer que sigo alimentada e fortalecida, sobretudo, por constatar que uma
pesquisa individual é, de fato, um amontoado de pessoas na vida da gente. E agradeço.
26/04/2017
24/02/2017
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porque quando a gente se junta, no mínimo, a gente é mais. e
esse mais pode ser tanta coisa... outro convite:
15/02/2017
01/02/2017
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No água viva, a Clarice
Lispector:
Então
escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não
é palavra. Quando essa não-palavra - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa
se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a
palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra ao morder a isca,
incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.
Aqui, trocando
escrever por dançar e palavra por movimento:
Então dançar é
o modo de quem tem o
movimento como isca: o movimento pescando o que não é movimento. Quando esse não-movimento - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se dançou. Uma vez que se pescou a entrelinha,
poder-se-ia com alívio jogar o
movimento fora. Mas aí cessa a
analogia: o não-movimento ao
morder a isca, incorporou-o. O que salva então é dançar distraidamente.
E continuo a
pensar sobre a linguagem falar linguagem, inevitavelmente.
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